Dia do Tiro ao ASP

Mauro Bragatto, o senhor deu um tiro no pé.
Dia do ASP, tudo bem. Nós merecemos mais que um dia: nós merecemos um salário decente, que dê para pagar as contas sem precisar ficar fazendo bico pra completar a renda. A gente merece trabalhar como a lei manda, com número suficiente de colegas para que a gente não tenha que trabalhar 4 vezes mais, como é hoje. Ok, Dia do ASP. Valeu, obrigada.
Sem cinismo: ter um dia para o profissional é bom, porque de qualquer forma é um tipo de reconhecimento ao trabalho da gente. É um jeito da gente aparecer na sociedade como sendo importante, e a gente é importante. Queria ver se não tivesse asp no mundo. É, o trabalho da gente é importante sim senhor.
Mas querer que a gente comemore com festa o pior dia que já tivemos como profissionais, aí é zoar da nossa cara. Fico até imaginando como o senhor pensou em fazer esse dia: o sistema virou dia 12 de maio de 2006; morreram não sei quantos policiais e agentes penitenciários; então vamos comemorar!
Foi assim que o senhor pensou na gente? Se não foi me desculpe, mas tá parecendo.
Hoje o que eu mais escutei na penita foi piada sobre esse dia do asp. No próximo 12 de maio, vamos comemorar queimando o Judas, sendo Judas o Marcola? Ou o PCC vai bancar nosso churras no nosso dia? Afinal, os marginais têm mais a comemorar nessa data do que a gente. Faz o seguinte: diz que se equivocou e troca as bolas. Assim, dia 12 de maio fica sendo o Dia do PCC - para comemorar o acordo que o governador Pinóquio fez com a facção na época - e o dia do ASP fica sendo 1º de Abril, já que a gente vive das mentiras do governo mesmo. Já estamos acostumados. Ou melhor: faz o Dia do ASP no dia da nossa data-base, que o governador nem sabe quando é! Combina! Olha só: o governador não sabe que a gente existe e também não sabe que data-base existe. Tudo a ver.
E o que é que nossos sindicatos acharam dessa belezura?

SINDASP - a associação atlética de Prudente não escreveu nada sobre o assunto no site. Talvez pra não ficar mal com Bragato, tucano ilustre que já enfeitou o site deles em foto abraçado com o presidente da entidade, nem ficar mal com a categoria, porque defender essa data pegaria mal.

SIFUSPESP - esse pelo menos se manifestou no seu site, lembrando a quem não tinha se tocado o que tinha acontecido em 12 de maio que originou o Dia do ASP. Mas eu esperava que eles colocassem uma nota de repúdio, ou um ofício de desagravo para o tucano Bragato, e isso não fizeram - e tudo, mas absolutamente tudo mesmo que eles fazem eles divulgam. E haja divulgação.








SINDICOP - nem uma palavra. Aliás, a última notícia deles é de junho ainda. Será que fechou as portas de vez? Alguém sabe se ainda existe?










Vendo o site do Sindasp, vi uma notícia lá que chamou minha atenção. Mas amanhã eu falo sobre ela.
Por hoje, chega de desaforo. Fui.

Aula de realidade, doa em quem doer.

Vamos começa a aula, meninos. Todo mundo com papel e caneta na mão.

Todo mundo quer greve. Todo mundo tá revoltado. Todo mundo escracha com todo mundo. E ninguém faz nada.
Nossa categoria tá do jeito que o governo gosta.

Categoria - dividida em pelo menos quatro sindicatos/associações, se eu não perdi as contas.
Governo - um só, a não sei quantos anos.
Categoria - mobilizada. Na frente do computador, somente.
Governo - imobilizado, como sempre.
Categoria - vive brigando com os sindicatos ao invés de brigar com o governo.
Governo - ignora sindicatos e categoria.
Categoria - quer greve, mas sabe que a sua unidade não para.
Governo - não quer greve e vai conseguir na justiça (de novo) que não aconteça greve.
Categoria - vota no Alckmin.
Governo - agradece a solidariedade e confiança.

Acorda, povo!
Ou a gente se une, ou para de reclamar.
Ou a gente faz greve, ou se conforma com o salário.
Ou a gente para de votar no Pinóquio ou a gente vai continuar na barriga da baleia junto com o Gepeto.
Ou a gente toma essas iniciativas... ou... ou... continua tudo como está.

Reclamar é para os fracos. Bom mesmo é agir.
Acooooooooorda!!!

Malandro é malandro e mané é mané

Discussão da semana: cumprir ou não cumprir ordens ilegais dos diretores?
Nem tem o que discutir. Não cumpro e pronto. Se não me pagam para fazer, não faço. Se é ilegal, não faço. Se posso me ferrar só para fazer um H com o diretor, não faço. Quem quiser, que faça, mas eu não faço.
Parece que foi domingo que um ASP se ferrou. Tava acompanhando um preso no hospital, fazendo a escolta, e o bicho fugiu enquanto o colega atendia a um telefonema. Resultado: se ferrou. Nem sei o que aconteceu com ele, e torço para que dê tudo certo pra ele, mas acho difícil. Vai responder a processo administrativo e acho que até criminal. E pra que? ASP não faz escolta, quem faz escolta é agente de escolta. E na hora que o bicho pega, o diretor não vai defender, aposto.
Aí o pessoal vem me criticar. Dizem que quem não cumpre ordem da diretoria é perseguido. Olha, eu sou uma funcionária do tipo chata, mas chata mesmo. Faço meu trabalho direitinho, mas só faço o que tenho que fazer, e sou solidária com meus colegas. Mas puxar saco de diretor não é comigo, e se tem que reclamar eu reclamo mesmo. E nunca me prejudiquei a sério por isso. Até tentaram me dar bonde duas vezes, mas não deu certo.
Assédio moral acontece mesmo, eu sei. Mas a gente não está tão desarmado assim, também. Tem que ser esperto. Não precisa encarar à toa, querer meter bronca do nada. Mas tem hora que esse enfrentamento cara a cara é necessário.
A bronca maior é o medo do pessoal. Medo de tudo, de levar bonde, de mudar de turno, de perder a chance de virar cargo comissionado, diretor, ou sei lá o que. O pessoal tem mais medo da diretoria do que dos presos, essa é que é a verdade. Só que diretor não é deus. A palavra dele não é lei. É a lei que a gente deve cumprir, e só. Quem anda certo não deve ter medo de autoridade.
Quanto mais medo a gente tem, mais sofre.
E quem cala consente, já dizia a vovó.

Mamãe, vem ver o que o sindasp fez!

Nossa! Nem acreditei! 87 visualizações em menos de duas horas! Uau, tô bombando.

Infelizmente audiência ainda é pouco para aliviar minha indignação.
O Sindasp, gente. O que diabos foi aquilo?
Pra quem não é da área: um dos muitos sindicatos que a categoria tem é o sindasp. Quer dizer... sindicato, sindicato ele não é, mas diz que é e tem gente que acredita. É uma associação que quer virar sindicato, é isso. Eu não gosto, vou ser bem sincera. Não gosto mesmo.
Mas independente de eu gostar ou não, o que o presidente da entidade fez com a gente só pode ser brincadeira. O cara tá tirando uma com a gente. Fala sério: chamar o secretário da SAP para inauguração de sede de sindicato? Tirar foto e exibir orgulhosamente na CAPA do site da SECRETARIA?
E aquela reportagem que tem junto da foto, alguém viu? É um tal de mimimi pra um lado, mimimi pro outro, todo mundo confraternizando, um falando bem do outro... E pode? Desde quando? Ao menos o governo deu a nós nesse ano qualquer aumento, para que um sindicato nosso esteja paparicando? Estamos tão satisfeitos com o governo que o convidamos para festa? Gentileza tem limite, companheiro. Isso é puxa-saquismo descarado.
Nas custas da gente.
Trabalhador é trabalhador, e patrão é patrão.
E quem não sabe disso, é melhor ir aprendendo logo. A coisa tá feia.

- Pensei em ilustrar esse desabafo com a foto mencionada. Mas não vou sujar meu blog novinho em folha.

"Eu nasci assim, eu cresci assim, e sou mesmo assim, vou ser sempre assim..."

A ideia deste blog é absolutamente pessoal: queria um espaço para comentar tudo o que me interessa, o que me deixa indignada, o que eu acho ridículo, o que eu acho importante.
Sou agente de segurança penitenciária no estado de São Paulo, e essa profissão não é nada fácil. A começar pelo fato de que a sociedade não dá a mínima para os nossos problemas, na verdade nem quer saber se a gente existe. É como se fôssemos a escória da sociedade, só que não somos. Somos cidadãos comuns, que têm família, preocupações, contas a pagar, dor de cabeça, mau humor, bom humor.
Acho que confundem a gente com o preso, só que o preso têm um monte de gente para se preocuparem e defenderem eles, enquanto a gente só tem a gente mesmo. E aí vem outro problema: a gente não é unido. Cada um só quer saber de si, não se importa com o coletivo, com os outros. Claro que tem exceções. Sou ferina, crítica, e às vezes até cínica, mas procuro nessa vida não ser injusta.

Vou tentar escrever aqui só os fatos e as minhas opiniões ligadas a minha profissão. Quero preservar minha vida privada desse blog, até porque já tenho outro blog no qual trato da minha vida particular, meus sentimentos em relação ao mundo e às pessoas que convivem comigo.
Escolhi o anonimato para este blog justamente por causa de um outro problema que a gente convive na profissão: a perseguição. Qualquer palavra ou opinião que desagrada pode me gerar uma transferência para qualquer lugar longe do que eu estou e quero continuar a estar. O assédio moral impera no universo do servidor do sistema prisional.

Meus colegas sabem que eu sou "chata", "pentelho", e alguns até me chamam de "cobra" (não na minha frente, lógico). Por isso escolhi o nome "ASP Ferina". É, eu sou chata mesmo e não nego. Mas costumo respeitar a quem se dá ao respeito. O mais importante: eu exijo ser respeitada. Portanto, se você não gostar de algum texto meu aqui, de alguma opinião minha, a única solução para você será não acessar meu blog e fazer de conta que eu não existo. O seu protesto diante dos meus pensamentos não vão adiantar de nada, se não for acompanhado de um bom argumento que possa me fazer considerar a sua opinião. Caso contrário, é dar murro em ponta de prego.

Dito isso, vamos começar a soltar o veneno.